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Educação não acontece (só) nas escolas

A palavra “escola”, em sua origem grega, significa “espaço do ócio”. Dessa forma, o ambiente denominado “escola” pelos gregos era bastante diferente do que entendemos por escola hoje. Qualquer local onde eles pudessem se reunir para debater ideias, poderia ser considerado uma escola. A prática escolar, para os gregos, estava mais associada ao livre interesse do aluno do que à uma transmissão agendada de informações orientada à determinada formação técnica.

Durante a Idade Média, a noção de escola mudou bastante e passou a ser vista como local que se frequenta para adquirir conhecimento e receber educação.

Nos últimos anos, acompanhamos profundas e complexas transformações nos ambientes organizacionais, nas formas de produção, nas relações humanas, na tecnologia. Entretanto, o espaço escolar tradicional ainda segue formatação semelhante à que foi criada no período medieval, não conseguindo abarcar as necessidades reais da sociedade atual.

O que, muitas vezes, cai em esquecimento é que a educação não acontece apenas nas escolas. Veja no artigo de hoje como alguns paradigmas desse cenário estão mudando, qual é a importância do conhecimento não institucionalizado e como espaços de aprendizagem podem ser criados para motivar, engajar e promover o desenvolvimento dos alunos e gerar conhecimento compartilhado.

Paradigmas da educação que estão mudando

Aos poucos, as pessoas começam a perceber que há uma assimetria entre os modelos de educação formal e as necessidades atuais. A sociedade mudou. Novas tecnologias surgiram. Nosso estilo de vida já não é o mesmo. Então, por que a educação, em muitos contextos, ainda é?

Como a escola tradicional não acompanhou essas transformações, alternativas ao sistema formal começaram a ser delineadas e a ganhar força. As habilidades não-cognitivas, como a curiosidade e a conscienciosidade, passaram a ser demandadas nos ambientes de trabalho e na sociedade. Mas, em ambientes de ensino tradicional, elas não são elevadas à categoria de conhecimentos e competências a serem exploradas.

Diante disso, começou-se a questionar o quanto daquilo que é, de fato essencial, realmente foi aprendido em sala de aula. Percebe-se, hoje, com mais evidência, que a educação é muito mais do que formação e escolarização, e que o aprendizado é algo que ocorrerá durante toda nossa vida e não apenas nos anos em que se frequenta uma escola.

Com isso, paradigmas da educação estão sendo transformados, recriados e readequados ao contexto de complexidade da sociedade atual. Veja alguns exemplos:

  • O ambiente escolar como local exclusivo para promover a educação está perdendo espaço.
  • O conhecimento prático, adquirido por meio da (con)vivência, da experiência, já não encontram na educação tradicional um respaldo fundamental.
  • O tempo escolar, como único tempo para formação, está sendo substituído pelo entendimento de que todo o tempo, ao longo da vida, é momento de aprender.
  • O aprendizado passa a ser entendido como um processo não institucionalizado, que pode ocorrer nos mais variados espaços e a qualquer tempo.
  • O diploma acadêmico deixa de predominar, como prioridade, em muitos campos. A criatividade, a capacidade de unir conhecimentos e gerar soluções novas e adequadas para problemas emergentes, passa a ter um peso maior do que a formação descrita no papel.
  • Os professores não são mais receptáculos de conhecimento, que é transmitido de modo unilateral. Eles devem ser facilitadores e mediadores do aprendizado. Enquanto ensinam, eles também aprendem com os alunos. O aprendizado não é mais transmitido, mas cocriado.

A importância da educação fora das escolas

Com o advento das tecnologias de informação e de comunicação, boa parte da educação já ocorre fora do ambiente escolar clássico. McLuhan afirma que “a maior parte do ensino acontece fora da escola. A quantidade de informação comunicada pelos jornais, revistas, filmes, canais de televisão e rádios excedem em grande medida a quantidade de informação comunicada pela instrução e textos na escola. Este desafio destruiu o monopólio do livro como ajuda para o ensino e derrubou os próprios muros das escolas de um modo tão repentino, que estamos confusos, desconcertados”.

John Dewey diz que a educação assistemática e extraescolar, que a criança adquire na família, com os amigos ou em outras instâncias socializadoras de seu contexto mais imediato, é vital, profunda e real; enquanto a educação formal ou escolar é mais abstrata e menos influente na rotina e nas necessidades diárias das crianças, embora mais ampla e completa do que a primeira em diversas instâncias.

Aos educadores fica o desafio de articular esses dois meios, associando suas qualidades positivas e integrando a aprendizagem formal à vivência prática do cotidiano. Uma forma viável de promover essa mudança é criar espaços de aprendizagem.

Como criar espaços de aprendizagem

Para que se estimule o aprendizado em momentos e lugares diferentes é necessário, primeiramente, que se coloque intenção ao projeto. É preciso colocar intenção nos processos por fazer perguntas, questionar e incluir tempo para captar as aprendizagens. Além disso, é necessário que se comece a aprender e a disseminar o valor dessas aprendizagens, por pensar além do curriculum tradicional, por valorizar as experiências da vida como educação.

Para isso, o educador deve questionar-se:

  • Quais são as necessidades que tornam esse momento de aprendizagem relevante? Por quê realizá-lo?
  • Qual é o propósito? Treinamento (transmissão de informações), compartilhamento de saberes (trocas entre pares), busca de novas ideias ou soluções (processo criativo)?
  • Quais são os objetivos específicos e os resultados desejados?
  • Quem são os “atores” envolvidos e os participantes presentes?

Os espaços de aprendizagem não devem ser vistos como lugares para a preparação para a vida, mas sim como espaços de vida, onde os alunos possam desenvolver suas potencialidades e experiências, reconstruindo-as continuamente e desenvolvendo outras novas, por meio da cocriação.

Os novos espaços de aprendizagem precisam abarcar a noção de que a educação ocorre em meio à vida e que esta, por sua vez, precisa estar inteiramente no ambiente de aprendizagem.

Esses espaços precisam, assim, ser colaborativos e se reconectar com a realidade das pessoas, sem confundir educação com transmissão impositiva de informações e competência com titulação, de modo a afogar o horizonte criativo das pessoas. Ao contrário do modelo tradicional, não deve fechar os alunos em sala de aula, mas sim voltar a investir em espaços amplos para convivência, debate e construção conjunta de saberes, nos quais os estudantes consigam experienciar aquilo que aprenderam e criar significação para seu conhecimento.

Um exemplo desses espaços é a Hub Escola. Esse é um ambiente de aprendizagem criado dentro de um espaço de coworking. Lá, o conhecimento é compartilhado e estimulado de modo experiencial e os alunos são estimulados não a contentarem-se com as respostas dadas, mas a fazerem perguntas que ajudem a questionar o status quo e a gerar valor e impacto positivo na sociedade.

O espaço funciona como um impulsionador e facilitador para o processo de ensino e aprendizagem do estudante de qualquer faixa etária. O foco da educação como produção gerada na escola, muitas vezes, leva ao esquecimento da importância da educação que ocorre fora da sala de aula, em espaços menos habituais, durante toda a nossa vida.

Esse paradigma está mudando. E, para estar preparado e integrar esse movimento, os educadores devem buscar uma abordagem mais holística e facilitadora, estimulando a responsabilidade, o protagonismo e a autonomia dos alunos em suas diferentes potencialidades.

Você concorda que a educação não acontece só nas escolas? Conhece algum espaço de aprendizagem inusitado ou fora do padrão? Qual sua opinião sobre esse tema? Converse conosco, deixe sua mensagem aqui nos comentários!