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Aprendizagem Experiencial – Por que é tão importante para adultos?

“Diga-me e eu esquecerei.
Mostre-me e eu posso lembrar.
Envolva-me e eu vou entender.”
Provérbio Chinês

No mundo de hoje, em que, tudo é mais complexo e as coisas parecem acontecer muito mais rápido, estamos constantemente repensando o jeito de como aprendemos e absorvemos conhecimento para acompanhar todas essas mudanças. Se olharmos o básico de como aprendemos e nos preparamos para a vida quando éramos crianças, notaremos que quase toda aprendizagem é feita através da experiência. Nós experimentamos algo, refletimos sobre aquilo, criamos conceitos e aplicamos esses conceitos para testar e verificar, e assim por diante. Este é o caminho mais rápido e natural para compreender e absorver conhecimento.

Este processo de aprendizagem essencial e elementar, foi estruturado por vários teóricos nas últimas décadas. Entre eles está David Kolb, desenvolvedor do Ciclo de Aprendizagem Experiencial. O ciclo descreve quatro fases: Experiência Concreta, Observação & Reflexão, Conceituação Abstrata e Experimentação Ativa. Para melhor entender, imagine o processo de uma criança começando a entender o conceito da gravidade:

Experiência Concreta:

“Joguei a bola para o alto e ela caiu. Humm…”

Observação & Reflexão:

“Sempre quando eu jogo a bola para cima, ela cai.”

Conceituação Abstrata:

Talvez tenha algo que força a bola para baixo e que não deixa a bola subir novamente. Vou pesquisar!

Criança: “Pai, por que a bola sempre cai quando eu jogo ela pra cima e por que nunca volta a subir?”
Pai: “Por que você acha? O que você já descobriu?”
Criança: “Acho que tem algo que está puxando a bola para baixo, faz sentido?”
Pai: “Sim! Essa coisa chamamos gravidade.”
Criança: “Funciona para todas as coisas?”
Pai: “Sim! Pode testar!”

Experimentação Ativa:

“Vou jogar outras coisas para cima e ver o que acontece… É, parece que sempre caem!”

A criança aprendeu sobre a gravidade a partir da vontade e curiosidade dela, através da própria experiência. Dessa forma ela entende muito melhor o conceito do que se ela tivesse escutado do pai a palavra ‘gravidade’ e apenas uma explicação abstrata. Passamos por esse ciclo várias vezes ao longo de um mesmo dia, mesmo que de forma mais implícita.

Ao longo da vida passamos a aprender de um jeito diferente. Nos sistemas educacionais, não nos ensinam pela experiência, mas através do professor falando, palestrante e instruindo. O conhecimento, dessa forma, é trabalhado através de conceitos intelectuais e racionais e ensinado de uma forma que só nos permite ouvir e ver. Como esse jeito de aprender tem sido a norma educacional para jovens e adultos, nos parece que é um jeito bom. Mas, por quê a aprendizagem experiencial continua sendo tão importante para adultos também?

Aprender é mais do que absorver conceitos abstratos

Em primeiro lugar, aprender é muito mais do que absorver conceitos abstratos. Vivemos num mundo em que ensinam teoria e conceitos racionais, sem nos mostrar as experiências que os precederam. Pulamos as etapas experienciais do ciclo de aprendizagem. Talvez por acharmos isso ineficiente, ou talvez por pensarmos que é algo para crianças. Mas infelizmente pular essas etapas do ciclo não é eficaz. Aprender não é o processo de ouvir ou ver algo e depois reproduzir no momento certo (“a prova”). Aprender algo para que depois possa ser (re)aplicado, isso implica entendimento.

O processo de aprendizagem experiencial exige as nossas habilidades analíticas, para realmente entender e com isso reter o conhecimento por mais tempo. Reflexão é uma parte essencial do ciclo, que permite que os insights sejam muito mais profundos. Depois uma experiência, a reflexão (em grupos ou individualmente) abre uma passagem para uma nova forma poderosa de pensar e aprender, ao permitir o envolvimento direto.

Imagine o conceito de colaboração: tão usado hoje em dia e sem dúvida essencial em qualquer área da nossa vida. Para realmente aprender, ou seja, compreender o conceito de colaboração, não é suficiente ver e ouvir uma apresentação sobre a sua importância. O indivíduo precisa viver experiências colaborativas (e experiências não-colaborativas) para sentir a diferença, refletir (com outros) sobre isso, criar um conceito abstrato que depois pode ser aplicado em varias situações. O entendimento exige todas as etapas do ciclo.

Aprender também envolve habilidades e atitudes

Em segundo lugar, é importante entender que aprender é algo que vai além de conhecimento intelectual e conceitual. Muitas vezes aprender algo de fato exige também uma mudança ou desenvolvimento de habilidades e atitudes. Seguir todas as etapas do ciclo nos ajuda nesse processo. O conhecimento, na verdade, só é adquirido na terceira fase (Conceituação Abstrata). Nas outras fases desenvolvemos habilidades e mudamos atitudes, pois realmente vivenciamos algo relevante.

Por exemplo, voltamos ao exemplo de colaboração. Além de entender o conhecimento e a importância do conceito, desenvolvemos as nossas habilidades para colaborar ao viver a experiência: como comunicar melhor, como pedir ajuda, como ter paciência e empatia. Também mudamos a nossa atitude. Crescemos na escola aprendendo que não podemos colaborar: não podemos olhar no papel do outro, não podemos copiar respostas, não podemos pedir ajuda do grupo. Dessa forma teremos que mudar a nossa atitude se quisermos trabalhar junto e criar novas ideias, conviver em um ambiente de inovação e trabalhar de forma mais eficiente.

Aprendizagem experiencial serve a vários “tipos” de aprendizes

Por fim, a aprendizagem experiencial serve a vários tipos de aprendizes. Adultos, assim como crianças, tem jeitos diferentes de aprender. Algumas pessoas integram os valores pessoais nas aprendizagens e gostam de saber quais os princípios por trás do que estão aprendendo. Outras pessoas integram as próprias experiências na aprendizagem e estão mais interessadas pela lógica por trás de uma ideia. Algumas pessoas conectam rapidamente a teoria com a prática e gostam de resolver problemas. Outras sempre perguntam ‘E se?’ e gostam de conectar conceitos com aplicações concretas. Kolb também descreveu esses quatro tipos de aprendizes e como o Ciclo de Aprendizagem Experiencial ajuda para cada um participar no jeito mais adequado.

Na Escola de Facilitadores, criamos “Experiências Transformadoras” e aplicamos sempre que possível o Ciclo de Aprendizagem Experiencial em nossos programas. Acabamos virando facilitadores de aprendizagem e encontramos esse desafio em muitos professores, educadores e instrutores com quem trabalhamos. Como você aplica e vive esse processo em sala de aula? Quais desafios enfrenta? Compartilhe conosco!