Recursos

Design Thinking, pensamento criativo e a abdução

por Igor Drudi, empreendedor, designer e educador.

O Design Thinking, como conceito, vem evoluindo bastante nas últimas décadas. O termo, como conhecemos hoje, foi citado pela primeira vez em 1992 por Richard Buchanan, em seu artigo Wicked Problems in Design Thinking, publicado na publicação MIT Press.

Nele, o professor de design americano diz que “vimos o design crescer de uma atividade comercial, de uma profissão segmentada e de um campo de pesquisa técnica, para o que agora deve ser reconhecido como uma nova arte liberal da cultura tecnológica.”

Desde então, estudos já consideravam a expressão comportamental das pessoas criativas e suas competências de apresentar o novo ao mundo como algo a ser mapeado, estruturado, aprendido ou replicado.

Tim Brown, da consultoria IDEO, afirma que o Design Thinking “é uma uma disciplina que usa a sensibilidade e os métodos do designer para combinar as necessidades das pessoas com o que é tecnicamente viável e estrategicamente comercial para poder converter em valor de cliente e oportunidade de mercado.”

Com isso, uma organização que pratica o Design Thinking busca um equilíbrio sustentável entre confiabilidade e validade, entre arte e ciência, entre intuição e análise.

O Mindset do Design Thinking

O Mindset (modelo mental) é como cada um de nós compreende o mundo à nossa volta. E é a partir desta visão que cada um de nós tomamos nossas decisões.

A partir desse modelo interno, desenvolvemos nosso comportamento diante das diversas situações que a vida proporciona, desde as mais banais e rotineiras até as novas experiências, sejam elas boas ou más.

O linguista americano Charles Pierce, em seus estudos sobre as inferências lógicas, que nada mais é do que a forma como tomamos nossas decisões, nos apresenta as três formas no qual tratamos as informações e o conhecimento que adquirimos: indução, dedução e abdução.

Na indução, temos a tendência de apegar a algumas informações e generalizar para confirmar determinadas hipóteses.

Na dedução, utilizamos informações e regras claras para comprovar como algo deve ser ou não.

Finalmente, a abdução trata-se da relação de causalidade entre os dados, sugerindo hipóteses de possíveis verdades. Dedução e indução são ferramentas de raciocínio de imenso poder.

Durante nossa infância, na vida acadêmica e até mesmo no ambiente profissional somos estimulados a pensar de forma lógica e formal, indutiva e dedutiva, buscando a confirmação de fatos, mas sempre com aversão à possibilidade do erro ou da incerteza.

Com isso, a abdução se torna minguante para muitos. No entanto, não estamos dizendo que a melhor receita não é abraçar apenas a abdução e excluir a dedução e a indução do pensamento.

Em vez disso, todos nós devemos buscar que ocorra um equilíbrio entre as inferências lógicas.

Abdução, a essência do processo criativo dos indivíduos

Em resumo, Design Thinking é pensar como um designer. Ele não é uma metodologia, mas uma forma de abordagem.

Ele auxilia em uma imersão mais profunda e no entendimento de padrões essenciais para criar projetos de melhor qualidade.

Independentemente do trabalho, exige-se o uso da reflexão e a livre expressão do pensamento.

Profissionais criativos são mais propensos em terem o seu mindset de abdução ativo no seu dia a dia.

O problema ocorre quando os líderes veem com desconfiança as “pessoas criativas”, acreditando que elas são menos produtivas e têm sérios problemas para cumprir prazos.

No entanto, são esses criativos que terão a maior capacidade para encontrar clareza no caos.

Eles que têm o poder de exercitar a empatia, a colaboração e de criar soluções inovadoras, ao experimentar diversas hipóteses possíveis para transpor desafios complexos que se apresentam.

Por outro lado, equipes que estão com o pensamento dedutivo e indutivo no automático terão mais dificuldade para desenvolver o Design Thinking.

Não se trata apenas de decorar ferramentas ou encontrar processos mágicos.

Ou mesmo de ver o Design Thinking meramente como um momento lúdico e uma oportunidade motivacional, colando post-its pelas salas, cocriando soluções criativas e dando uma salva de palmas para o time – mas tudo isso apenas em um dia.

No dia seguinte, volta-se à mesma rotina organizacional, como se o Design Thinking fosse algo à parte.

Se isso já ocorreu na sua organização, saiba o seguinte: isso não é Design Thinking. Ter o Design Thinking como um mindset operante deve ser algo constante e não esporádico.

As equipes devem se autoavaliar e, então, desenvolver uma estratégia de introdução de novos hábitos no seu comportamento, desenvolvimento um aguçado senso de experimentação.

Relevar a abdução pode ser um perigoso obstáculo à inovação, pois ilustra uma profunda desconexão entre o processo central de desenvolvimento da visão e o processo de desenvolvimento de produtos.

Somos todos criativos, apenas desaprendemos a utilizar nossa criatividade. Design Thinking não é apenas um evento ou um workshop.

É o desenvolvimento comportamental em prol da inovação centrada em pessoas. São atividades criativas que geram valor intelectual.

Mais importante ainda, quando aplicado e formalizado, essas atividades são imensamente úteis no desenvolvimento de novos projetos.

Saber utilizar pensamento criativo, pode resultar em soluções únicas, inovadoras e até mesmo emocionantes.

E na sua organização, como tem sido a postura com relação ao mindset do Design Thinking? Como vocês fazem a diferença? Compartilhe conosco nos comentários!

 

Igor Drudi, designer apaixonado por inovação e a capacidade da criatividade mudar paradigmas, tendo as pessoas como foco para desenvolver projetos de forma colaborativa e multidisciplinar auxiliando as empresas a atingirem objetivos de alto impacto.
Facilitador de workshop de inovação e design, tendo na docência o papel de contribuir para uma geração de change makers e empreendendo em projetos que promovam o desenvolvimento socioeconômico de forma sustentável e com base na economia criativa.