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Liderança Shakti e o equilíbrio nas organizações

Vamos começar com uma reflexão bem simples.

Feche os olhos e pense em todas as empresas nas quais já atuou ou com as quais teve algum tipo de contato. Como era a liderança nesses lugares? Como a liderança impactava as ações cotidianas dos colaboradores?

Agora imagine a chuva permeando o solo, sendo filtrada por ele, levando vida e renovação por onde passa.

A liderança que você visualizou revigorava o ambiente de trabalho, deixando-o fértil para ideias, colaborações e ascensão de novos líderes — da mesma forma que a chuva revigora o solo —, ou suprimia toda a criatividade em prol de uma estrutura rígida e hierarquizada, pouco interessada no fator humano?

Provavelmente a segunda opção, não é verdade?

Neste artigo, nosso objetivo é falar sobre liderança e equilíbrio nas organizações, mas não qualquer liderança, e sim aquela associada ao conceito de Shakti.

Nunca ouviu falar? Tudo bem. Vamos embarcar juntos em mais uma jornada de aprendizagem!

1. O conceito de liderança Shakti

Do que adianta mais um livro, mais um texto, mais uma palavra sobre liderança quando há milhares de abordagens ocupando as prateleiras das livrarias? O que de novo pode haver em um tema que já foi esmiuçado sob tantas perspectivas diferentes, justamente por sua relevância para as organizações contemporâneas?

É exatamente com esse questionamento que Raj Sisodia e Nilima Bhat iniciam seu livro Liderança Shakti: O equilíbrio do poder feminino e masculino nos negócios, publicado no Brasil em 2017, pela HSM.

A conclusão a que chegam os autores — ele, especialista em Capitalismo Consciente, ela escritora e coach — é de que a forma com que a liderança tem sido praticada é, ao mesmo tempo, sintoma e causa de inúmeros males de nossa sociedade.

Baixo engajamento dos colaboradores e estresse relacionado ao ambiente de trabalho, síndromes como a de Burnout, e corrupção sistêmicas nos âmbitos privado e público são alguns exemplos.

Isso porque o modo de liderar, de executar tarefas e até de se relacionar nas organizações e na vida é associado a características intrinsecamente masculinas, como individualismo, agressividade, hierarquização, burocracia e rigidez.

Aprendemos a valorizar esse modus operandi comportamental, e, em geral, perdemos o contato com a criatividade, com a intuição, com a adaptabilidade, com o ímpeto de mudança e renovação, caraterísticas predominantemente femininas.

Assim, o propósito da liderança Shakti é abrir um espaço de diálogo e conscientização para que essas energias complementares, a masculina e a feminina, entrem em equilíbrio dentro das organizações.

2. O significado de Shakti

É da metodologia hindu que surge o conceito de Shakti.

Os autores revelam que nesse sistema de crenças, original da tradição indiana, há uma divindade que é representada ao mesmo tempo como um homem e como uma mulher.

Na verdade, seu corpo é dividido entre essas duas naturezas, sendo o lado esquerdo ligado à energia masculina, Shiva, e o direito à energia feminina, Shatki.

Em geral, Shakti é todo o poder que vem de dentro, que é intrínseco ao ser humano. Trata-se de uma força consciente, criativa e criadora, e, por isso, associada à dimensão feminina.

Todos os seres humanos possuem ambas as energias dentro de si: Shakti e Shiva. As mulheres contam com a energia masculina, assim como os homens contam com a feminina. No entanto, os homens têm sua ligação com Shakti, ou o poder do feminino, suprimida desde a infância.

Sabemos que esse panorama está mudando, contudo, ainda vivemos em uma sociedade predominantemente patriarcal, o que se reflete em como somos educados.

Em muitos lugares, a sensibilidade, o carinho, a conexão com a natureza e a própria capacidade criativa ainda são vistos como motivos de chacota e até de bullying.

Meninos são ensinados a não chorar, a não falar de seus sentimentos, a não se deixar guiar pelas emoções e a impor sua vontade por onde quer que passem.

O resultado desse processo educativo? Um desequilíbrio enraizado e a predominância da energia de Shiva, que engloba disciplina, foco e resiliência, mas também agressividade, dominação e predisposição ao totalitarismo.

3. Liderança e equilíbrio nas organizações

O livro defende, ainda, que a estrutura organizacional da maioria das empresas emana dessa sociedade patriarcal, excessivamente focada na centralização do poder, na competitividade, nos valores militares de recompensa e punição. É justamente esse paradigma que ele busca questionar, a fim de conscientizar seus leitores.

Perceba que o propósito da liderança Shakti não é valorizar uma energia sobre a outra, mas, sim, conciliar ambas e aproveitá-las em seu melhor.

Busca-se despertar e equilibrar a energia feminina e masculina em homens e mulheres, no intuito de que eles desenvolvam habilidades holísticas de liderança.

Esse processo é feito de dentro para fora, por meio do autoquestionamento e da conscientização dos benefícios da complementariedade sinergética entre o poder criativo feminino e o princípio da percepção, considerado masculino.

Mas por que essa abordagem é relevante hoje?

Segundo os autores, a própria humanidade está em processo de transformação. Estamos deixando para trás uma polaridade essencialmente masculina, calcada em séculos e séculos de guerra, escravidão e dominação, e caminhando rumo a um estado de inclusão, colaboração e coletividade.

No prólogo, são listadas algumas conquistas nesse sentido, que incluem a extinção da escravidão, o fim do imperialismo, o direito ao voto universal e, mais recentemente, a oficialização da união homossexual e o debate em torno das questões de gênero.

Estamos em uma era em que muros estão sendo derrubados e pontes estão sendo construídas, e essa mudança exige de cada um de nós a busca pela harmonização entre as energias Shakti e Shiva.

4. A era do Capitalismo Consciente

Nessa leva de transformações, surge a noção de Capitalismo Consciente, que se opõe ao velho sistema de exploração e consumo no qual o lucro é o único fim a ser visado.

Para Sisodia, no Capitalismo Consciente, é o desenvolvimento do potencial humano o principal interesse.

Nas organizações e governos que buscam incorporar esse conceito — os autores indicam o Canadá como um exemplo claro —, a centralização de poder, a competitividade doentia, a quase escravização do trabalhador e sua submissão à uma estrutura hierárquica engessada e desumana, foram substituídos pelos princípios da coletividade, da inclusão, do respeito à diversidade, da descentralização de poder e da valorização do potencial humano.

Assim, a Liderança Shakti alia-se ao Capitalismo Consciente, servindo-lhe de instrumento de conscientização!

Nós, seres humanos, estamos posicionados nessa onda transformacional, na iminência de um grande upgrade em nossa composição básica.

O conceito de Shakti e a energia feminina da renovação vêm possibilitar essa transição, harmonizando liderança e equilíbrio nas organizações e na sociedade.

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