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Pensando educação: 4 formas de fazer uma avaliação diferente na sala de aula

Já chamamos a atenção aqui no blog sobre os problemas do atual sistema de educação. É perceptível que o currículo escolar enfatiza algumas matérias em detrimento de outras, negligenciando a maior parte do potencial cognitivo e comportamental dos alunos.

Não é novidade que os conhecimentos lógico-matemáticos têm destaque em relação à educação artística, por exemplo. Também não é novidade que os alunos mais decoram e memorizam o que é passado pelo professor do que constroem ativamente seu conhecimento.

E o problema não para por aí. As formas de avaliação refletem a limitação imposta pelo currículo, aferindo apenas um conjunto restrito de habilidades e saberes.

Nós sabemos que essa dinâmica precisa passar por uma transformação. Estamos preparados para fazer nossa parte e contribuir com essa mudança, e, por isso, promovemos a facilitação como um dos novos jeitos de liderar pessoas e ensinar.

Por isso, apresentaremos, no artigo de hoje, quatro formas de avaliação mais amplas e condizentes com a realidade dinâmica e diversa de nosso século.

Siga em frente e inspire-se!

A Teoria das Inteligências Múltiplas

Antes de listar as avaliações, contudo, vamos revisitar um conteúdo-chave que publicamos sobre a Teoria das Inteligências Múltiplas, do psicólogo americano Howard Gardner.

Segundo essa teoria, a cognição humana tem várias facetas, dentre as quais destacam-se as inteligências:

  • lógico-matemática;
  • linguística;
  • musical;
  • espacial;
  • corporal-cinestésica;
  • interpessoal;
  • intrapessoal; e
  • naturalista.

Via de regra, utilizamos algumas delas ao mesmo tempo, como quando andamos de bicicleta (inteligências espacial e motora), ou quando dirigimos e conversamos com alguém que está sentado ao nosso lado (inteligências linguística, interpessoal e espacial).

Normalmente, dispomos de todas elas, além de outras que não foram incluídas na relação original, como a inteligência existencial e a espiritual.

Gardner afirmou, entretanto, que chegamos a desenvolver de forma mais aprofundada apenas duas ou três ao longo de nossa vida.

Um bailarino certamente dominará a esfera corporal-cinestésica e musical, ao passo que um físico quântico se destacará na área da lógica e da matemática. Já um psicólogo ou pedagogo exercitará em seu dia a dia as inteligências intra e interpessoal.

A avaliação das Inteligências Múltiplas em sala de aula

Pensando a educação atual, fica claro que crianças e jovens naturalmente predispostos aos tipos de inteligência valorizados pelo currículo escolar se destacam.

Afinal, numa aula expositiva, destaca-se aquela parcela de alunos que demonstra facilidade em memorizar conceitos através do aprendizado pela escuta ou leitura. Porém muitas vezes trata-se de um aprendizado totalmente passivo.

Mas o que acontece com o aluno que possui uma inteligência corporal-cinestésica acima da média? Ou musical? O que acontece com aqueles que se expressam melhor com seu corpo do que com palavras? O que acontece com alguém que, como falou Sir Ken Robinson na TED Talks, precisa se mover para pensar?

Sua forma de inteligência é tão necessária para seu desenvolvimento e para a evolução humana quanto qualquer outra, porém, se depender do método de ensino e avaliação atual, esse aluno poderá passar seus anos escolares se sentindo um peixe fora d’água.

É por isso que nos propomos a pensar educação, a falar sobre ela e a questioná-la. Desejamos contribuir para uma dinâmica mais humanizadora e inclusiva, que transforme a sala de aula em um espaço fecundo para o desenvolvimento holístico dos alunos, valorizando-os em suas múltiplas e distintas manifestações.

Nesse ímpeto, trouxemos quatro ideias de avaliações que fogem do padrão unilateral e hierárquico professor-aluno. Trata-se de sugestões e abordagens que aferem direta ou indiretamente mais de uma forma de inteligência. Vamos lá?

1. Criação de objetivos

A criação de objetivos no início do curso, programa ou ano letivo é baseada no conceito de CHA. Já ouviu falar?

Conhecimentos

Habilidades

Atitudes

Ao estabelecer as metas, indicadores e objetivos, leve em consideração esses três aspectos. Em CONHECIMENTO (saber), questione-se: “Quais conhecimentos os alunos vão adquirir, construir ou aperfeiçoar?”. Já em HABILIDADES (saber fazer), pergunte-se “Quais competências e habilidades serão exigidas para que a aprendizagem aconteça?”. Em ATITUDES (vontade de fazer), pense em termos de “Quais atitudes espera-se que os alunos demonstrem?”

Depois de elaborar uma versão preliminar desse mapa, compartilhe-o com a turma, a fim de que os alunos possam sugerir alterações, contribuindo para sua versão final.

2. Avaliação entre colegas

Ao invés de reforçar a hierarquia professor-aluno, proponha uma avaliação entre os pares. Essa técnica é especialmente efetiva se você tiver como base os objetivos, metas e indicadores CHA pré-estabelecidos.

Cada aluno ou grupo fica responsável por avaliar o trabalho do outro, mas será sua tarefa direcioná-los quanto aos feedbacks e ao embasamento da avaliação.

Questione-os: “Por que os indicadores de “habilidade” foram atingidos, mas os de “conhecimento técnico” deixaram a desejar?”, e “O que poderia ser melhorado?”.

3. Autoavaliação

A autoavaliação também é um instrumento valioso para incentivar o autoquestionamento e a percepção de inteligências e habilidades diferenciadas.

Aqui, mais uma vez baseando-se nos indicadores de CHA, conduza os alunos ou grupos a avaliarem o próprio desempenho e a apresentarem as evidências e embasamento para sua avaliação.

4. Avaliação da capacidade de aplicar o conhecimento

Você, como professor, deve saber que uma avaliação escrita dificilmente poderá aferir a real aprendizagem dos alunos e sua capacidade de resolver problemas concretos a partir do conhecimento gerado.

Portanto, a última ideia é produzir cases e simulações que testem na prática não apenas os conhecimentos, mas também a capacidade de aplicá-los na resolução de entraves reais.

Não construa uma situação onde há uma resposta correta, e sim um processo que valorize a jornada trilhada por cada participante. Observe as diferentes estratégias que os alunos elaboram para atacar um problema.

A aplicabilidade das Inteligências Múltiplas na educação

Como você pôde ver, o potencial humano é um prisma com múltiplas facetas!

Isso quer dizer que nós, seres humanos, possuímos e demonstramos diferentes formas de inteligência na hora de resolver problemas de nosso cotidiano.

Nosso objetivo aqui, portanto, foi pensar como a educação pode se abrir para esse potencial holístico por meio das avaliações.

A prática avaliativa é inerente ao processo de educação, mas pode ser pensada e planejada a partir do conceito de CHA, que, como vimos, engloba não apenas o saber, mas também o saber fazer e a disposição para fazer.

Tenha em mente que essa abordagem faz parte de uma transformação em larga escala, fundamental para conectar a educação escolar e acadêmica à realidade dinâmica do século em que vivemos.

Nós somos parte dessa onda de mudanças transformadoras. E você? Se acredita que a educação é sim uma forma de mudar estruturas, conheça nossa formação avançada em Design e Facilitação de Processos de Aprendizagem!