“Ensinar é um talento natural que alguns possuem e outros não!”
Você concorda com a declaração acima? Se sim, saiba que essa percepção da docência está equivocada, apesar de ser reproduzida com certa frequência pela mídia e estar enraizada na sociedade ocidental.
Então vamos refletir: por que acreditamos que excelentes professores atingem esse patamar intuitivamente e não por meio de treinamento?
Nosso objetivo, aqui, é debater justamente esse paradigma. Para isso, vamos analisar os programas de formação de docentes e examinar um novo movimento pedagógico que surge para revolucionar a forma com que o ensino é realizado nas escolas a partir da figura do professor.
Ficou curioso? Siga em frente e descubra como é possível atingir a excelência na prática docente!
O mito do professor nato
Você se recorda do personagem de Michelle Pfeiffer em Mentes Perigosas (1995)? Ou de John Keating, o professor interpretado por Robin Willians no filme Sociedade dos Poetas Mortos (1989)? Ambos são manifestações midiáticas da crença de que bons professores possuem uma predisposição natural para a docência, e que sua prática inspiradora brota intuitivamente, sem que eles precisem passar por treinamento e preparação.
Esse mito é disseminado em muitos países, inclusive no Brasil. Se pararmos para refletir, não é tão difícil entender o porquê; educar é uma tarefa complexa, que demanda, além dos conhecimentos adquiridos na universidade, uma série de técnicas e habilidades específicas. Além de inteligência intelectual, ela depende de inteligência emocional.
O problema é que a maioria dos professores — tanto os que estão em formação quanto aqueles que já atuam nas redes de ensino — não recebeu ou recebe treinamento adequado para lecionar.
De acordo com a professora Bernardete Gatti, doutora pela Universidade de Paris e atual responsável pelas pesquisas da Fundação Carlos Chagas, grande parte das universidades brasileiras, por exemplo, se dedica a formar pesquisadores e não professores.
“A gente constata em entrevistas e em pesquisas com docentes das faculdades que eles não têm a noção de que estão formando um profissional da Educação, que vai para a sala de aula lidar com crianças e adolescentes. Eles trabalham para formar intelectuais e pesquisadores. Até certo ponto isso é importante. Mas essa é apenas parte da formação. É preciso focar também na prática social nas escolas.”
Nesse cenário, mitos como o do “professor nato” se proliferam para compensar a falta de preparação adequada.
O paradigma da formação dos educadores
Recentes estudos demonstram que embora os pais prestem mais atenção ao uso de uniforme escolar e ao tamanho das salas de aula, essas questões têm um impacto pequeno no aprendizado de seus filhos se comparadas à prática docente.
Todas as formas de aprimorar o aprendizado nas escolas remontam à figura do educador. Nada influencia tanto a construção do conhecimento e o desempenho estudantil quanto a didática, o domínio do ofício de ensinar.
Mas quem vai ensinar os professores a ensinar? Como vimos, de acordo com a professora especialista Bernardete Gatti, tanto nas licenciaturas quanto na própria Pedagogia discutem-se teorias da educação, mas não há um treinamento sistemático da prática docente, e nem uma dinâmica para avaliar e aperfeiçoar a atuação dos formados.
De fato, a grande maioria dos egressos desses cursos entra nas salas de aula sem ter experimentado o dia a dia de um professor. Como consequência, ao invés de se basear em métodos educativos, eles precisam apelar para seu instinto ao enfrentar a desafiadora tarefa de educar.
A esses profissionais, resta aperfeiçoar sua prática ao longo dos primeiros anos de atuação, quando turmas reais, com demandas e necessidades reais já dependem de sua expertise. Em outras palavras, eles só aprendem como ensinar a partir dos próprios tropeços e acertos.
Se compararmos esse procedimento com a prática preparatória da medicina por exemplo, veremos a disparidade: nenhum médico treina com pacientes vivos, e, sim, em numerosas aulas de anatomia.
Os agentes da transformação e o ato de ensinar
A partir dessa constatação, iniciativas estão surgindo em países da Europa e da América do Norte para reverter esse cenário. A verdade é que em locais como Finlândia e Singapura, o profissional da educação já passa por um extensivo treinamento. Essa experiência positiva, cujos resultados ficam claros nos rankings de programas avaliativos internacionais como o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), serve de inspiração para instituições como a Relay Graduate School of Education.
Como outras organizações similares, a Relay aplica princípios da ciência cognitiva, da educação médica e da preparação de atletas no aprimoramento de seus docentes. O objetivo? Transformar professores medianos em excelentes, e provar de uma vez por todas que esses profissionais são o resultado de treinamento adequado e intensivo.
Mencionamos acima o fato de que a maioria dos professores evoluem sua prática já na sala de aula, com turmas reais, certo? Pois o intuito da Relay é justamente alcançar esse tipo de aperfeiçoamento por meio de treinamento e processos de lapidação supervisionados por outros professores.
Para alcançar esse destino, os formandos da instituição são ensinados, monitorados e avaliados extensivamente na busca de melhores resultados. Há, por exemplo, uma iniciativa chamada residência educativa, na qual os residentes vivenciam a prática da sala de aula durante um ano com o auxílio de um mentor.
No início do programa, os futuros educadores assumem pequenos grupos de estudantes. Com o tempo, essa interação vai evoluindo até que passam a assumir turmas inteiras. Um sistema de feedback é montado e, toda semana, há encontros com os mentores para que uma habilidade específica seja debatida e assimilada.
Os impactados pela mudança
Essa transformação vem acontecendo em diversas regiões do globo, porém há uma diferença substancial entre a formação dos professores nos países desenvolvidos e nos que estão em desenvolvimento.
Geralmente, em países como o Brasil, o investimento na carreira do docente é escasso e a valorização da profissão despenca ano após ano. Com essa defasagem, muitos não alcançam sequer a formação mínima exigida.
Iniciativas como a da Relay buscam modificar essa lógica. A formação adequada dos docentes é uma estratégia que pode quebrar esse ciclo, uma vez que elas têm um impacto maior justamente na educação de crianças e jovens mais pobres. Segundo levantamentos, ter um professor altamente treinado em sala de aula pode reverter a influência da carência financeira em testes de desempenho escolar.
Famílias ricas encontram alternativas facilmente na hora de compensar a falta de qualificação e treinamento dos professores de seus filhos. Mas o mesmo não é verdadeiro para aqueles que não têm condições de arcar com o ensino privado ou com tutorias particulares e que, portanto, dependem da performance do docente em sala de aula.
Como você pôde perceber, ensinar é um ofício no qual a excelência é alcançada por meio de treinamento e qualificação, tanto quanto em qualquer outra profissão. O mito do “professor nato” não se sustenta; instituições como a Relay deixam isso cada vez mais claro.
Conseguimos engajá-lo nessa reflexão tão necessária sobre a formação e a prática docente? Então convidamos você a compartilhar sua percepção e vivência conosco, deixando um comentário logo abaixo.