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O que realmente significa inovar na educação?

Você conhece os principais problemas do sistema de ensino atual? Há alguns meses, dedicamos um artigo a identificá-los e a descrevê-los.

Sugerimos que você reserve um tempinho para lê-lo e refletir sobre ele, pois os argumentos apresentados e as ideias debatidas lá e cá são complementares.

Já adiantamos que ambos os textos giram em torno do sentimento de que a escola está estagnada, presa a valores e práticas obsoletas e distantes da realidade tecnológica, dinâmica e complexa em que vivemos.

Você compartilha conosco esse sentimento?

Que bom, pois foi a partir dele que construímos o post de hoje. Aqui, vamos abordar a desarmonia entre a escola e a vida e, dentro desse contexto, questionar o que significa inovar na educação.

Siga em frente e faça uma boa leitura!

A escola da vida e a vida da escola

Entre em qualquer escola, e você se deparará com o mesmo cenário. Alunos sentados em carteiras enfileiradas, ouvindo o professor falar.

Não demora muito até que a falta de engajamento dê espaço a conversas paralelas, sussurros, mensagens e uma olhadela no celular que se prolonga por boa parte da aula.

Na escola, aprendemos alguns conceitos e refinamos certas habilidades, mas nada que nos prepare de fato para a vida fora de seus muros protetores, um mundo repleto de verdades conflitantes, de encontros e desencontros, de reveses emocionais e financeiras.

Durante os anos escolares, nosso intelecto é regado com informações descoladas de nosso cotidiano, muitas vezes mastigadas e até imprecisas.

Costumamos dizer que a vida é uma escola, mas na escola de hoje ainda há pouco da vida como ela é. Nela, os alunos não falam sobre como a política e a economia afetam seu dia a dia, ou sobre como a indústria da tecnologia está aos poucos transformando a forma com que se comunicam.

Há aulas que abordam política, tecnologia e economia, claro, mas sempre de maneira hipotética, longínqua e desacoplada da realidade.

O conhecimento produzido na escola

O conhecimento produzido na escola é um conhecimento quantificável, cujos resultados podem ser aferidos por avaliações pontuais, na quais a memorização desempenha um importante papel.

Gravamos datas históricas, nomes, fórmulas e números sem necessariamente compreender os fenômenos que os originaram.

Memorizamos resultados, mas estamos longe de compreender os processos e conectá-los à realidade tangível de nossa rotina. Nossa bagagem não é acionada e, na maioria das vezes, nossa percepção sequer levada em consideração.

Nesse oceano de conhecimento vago e desconectado, nossa curiosidade e deslumbramento pelos fenômenos do mundo vai se transformando em bocejos e conversas paralelas.

A cultura do erro e a tangibilidade do saber

Portanto, se quisermos de fato inovar na educação, precisamos construir uma ponte entre a teoria e a prática, além de priorizar um conhecimento mais conectado à realidade contemporânea e toda sua complexidade.

É isso que nos falta no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), por exemplo, teste no qual estamos abaixo da média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em Leitura, Matemática e Ciências.

Os alunos brasileiros sabem memorizar informações, mas não sabem aplicá-las em contextos distintos, na resolução de problemas e superação de barreiras práticas.

Só que para viver (e não apenas sobreviver) no século 21, memorizar informações não basta.

É fundamental produzir conhecimento e construir sabedoria, fazendo de cada erro (intelectual, comportamental, emocional ou profissional) um degrau de ascensão.

De fato, estar disposto a aprender com os próprios tropeços e evoluir a partir deles é uma mentalidade essencial à vida adulta.

Mas que escola se preocupa com ela? Que professor a ensina? Quem fala de resiliência em sala de aula?

A resiliência que o mundo demanda de um ser humano raramente é trabalhada dentro dos muros escolares, local em que erros são rechaçados quando deveriam ser valorizados como oportunidades de aprendizagem.

A necessidade da educação emocional e financeira

Outro aprendizado fundamental é na área de finanças pessoais.

Aqui entram conceitos como juro, cartão de crédito, poupança, enfim, tudo o que for relacionado ao sistema monetário vigente.

Que aluno se forma no Ensino Médio, por exemplo, tendo uma noção do que o aguarda no âmbito financeiro?

Muitos concordam que ensinar lições básicas de Economia aos alunos é graduá-los para a vida. Então por que não juntar esse aspecto tão prático e urgente de nosso cotidiano com a Matemática e a Sociologia, por exemplo?

Aliás, por que não falar sobre o próprio mercado de trabalho? Sobre as habilidades comportamentais — e não apenas técnicas — necessárias para se dar bem no ambiente corporativo, cada vez mais competitivo, imprevisível e até ilógico.

Inovar, nesse quesito, passa por saber que, fora da escola, nem todo esforço é recompensado na primeira tentativa, e nem toda ação gera a reação desejada.

Para isso, é essencial promover uma educação mais completa, que englobe o aspecto intelectual, mas também o emocional, bem como as habilidades motoras, comunicativas e artísticas.

As emoções, os movimentos de nosso corpo, a forma como nos comunicamos e interagimos com o mundo por meio da arte são facetas de nossa existência individual e coletiva, não é verdade? Por que ignorá-las na escola?

Uma explicação frequentemente utilizada é que a escola deixa tais ensinamentos (especialmente os relativos às emoções humanas) por conta dos pais e familiares dos alunos.

O problema é que nem todos os pais estão aptos a ensinar e a falar sobre esse tipo de aprendizado porque eles mesmos nunca tiveram essa oportunidade.

Há muito debate sobre o analfabetismo linguístico, mas quantos de nós são analfabetos em relação às próprias emoções?

Inovar na educação significa proporcionar ao aluno oportunidades de construção de sabedoria, de vivências e não apenas de conhecimento acadêmico.

O significado de “inovar na educação”

Se você chegou até aqui, pare um pouco e respire fundo antes de continuar. Lembre-se de seu próprio tempo na escola. Vá em frente e gaste alguns minutos visualizando o que a escola é e o que ela poderia ser. Reflita sobre o que já mudou.

Esperamos que você tenha percebido que inovar na educação não está necessariamente ligado ao emprego da tecnologia em sala de aula, mas à formulação de uma escola e uma forma de educar mais holística, que pense e trabalhe as necessidades dos alunos para além do âmbito acadêmico.

Contudo, isso não é algo tão simples e rápido de se alcançar. Pelo contrário, trata-se de um movimento amplo, que exige reflexão, planejamento e coordenação de todos os envolvidos: gestores; professores; pais; e alunos.

Ao longo do texto, levantamos alguns questionamentos, caminhos e hipóteses de inovação. Para facilitar sua assimilação, compilamos algumas dessas ideias abaixo. Confira!

  • Priorizar um conhecimento mais tangível em vez de abordar conceitos e teorias de forma vaga e desconectada da realidade.
  • Estabelecer conexões entre a teoria e a prática, tendo como ponto de partida a realidade dos alunos.
  • Valorizar os erros como oportunidades de aprendizagem.
  • Treinar habilidades como leitura crítica, comunicação, interpretação, negociação e, sobretudo, resolução de problemas.
  • Valorizar e trabalhar outras inteligências além da intelectual.
  • Criar uma base para ensinamentos sobre finanças pessoais e desenvolvimento pessoal.

Ok. Sabemos que é bastante coisa, e que nem tudo é passível de ser aplicado da noite para o dia, sobretudo por conta das restrições curriculares e do modelo avaliativo vigente.

Não estamos sugerindo uma mudança brusca, uma ruptura radical com o modelo existente, mas um caminho de transformações, um upgrade gradual da estrutura escolar.

A sociedade como um todo começa a despertar para essa demanda, e é imperativo que a escola acompanhe esse movimento, fornecendo às crianças e jovens os instrumentos adequados para que prosperem fora de seus muros.

Quer continuar refletindo a respeito da escola e de como transformá-la? Entre em contato conosco e compartilhe suas ideias. Por aqui, estamos fazendo nosso dever de casa e projetando maneiras de inovar na educação por meio de cursos e formações como o Kaospilot Repense Educação e a formação avançada em Desenho e Facilitação de Processos de Aprendizagem!

Para concluir (e descontrair), assista ao vídeo Life Explained as a Videogame, do canal Casually Explained!